Palavra do dia:
Roubar: yasriq
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Hóspedes em minha casa são sempre bem-vindos, agora quando a visita é da família é muito melhor!!!
Mês passado meu pai (Thadeu) e sua namorada (Ana Paula) vieram me visitar aqui no Egito. Tudo ocorreu de uma forma bastante surreal. Isso porque sempre achamos que visitas de família nunca vão acontecer. É engraçado, mas é verdade. A gente sempre pensa que as promessas vão ser só de boca e que por mais que as pessoas queiram te visitar, isso nunca vai ocorrer de fato. Mas ocorreu…
Quando fui ao Brasil em julho, meu pai havia dito que em breve estaria me visitando. Fizemos vários planos, mandei um e-mail com datas ideais para a visita e tudo mais. Mas lá no fundinho eu achava que a visita não aconteceria neste ano ainda. Um dia, estávamos falando ao Skype e meu pai disse:
– Filha, compramos as passagens!!!!
– UEEEEEEEEEBBBBBBBBBAAAAAAAAA!!!!
SHOWWWWWWWWWW, como diria meu pai. Na verdade essa é a palavra preferida dele!
Eles chegaram logo no início de setembro, juntinho do fim do Ramadan. Logo na chegada, a primeira surpresa…
Estávamos eu e Rodrigo esperando por eles no saguão do aeroporto, e mesmo para os padrões egípcios, estavam demorando a sair. O vôo deles era via Dubai e eles haviam pernoitado lá. No momento que eles saem pela porta eu percebi que algo estava faltando… As bagagens!!
– Pai, cadê as tuas malas??
– Não sei, acho que estão em um depósito do aeroporto porque elas vieram antes.
– Depósito???? Como vieram antes? Não tem vôo antes!
– Sim, a moça de São Paulo me disse que as malas viriam direto para o Cairo!
– ???????????????
Estávamos achando aquilo muito estranho e como o inglês dos dois não é nada fluente, logo percebi que havia um mal entendido. Voltamos até a saída do desembarque e eu pedi ao segurança que meu pai entrasse novamente e fosse até o balcão de reclamação de bagagens. Quando voltei perguntei à Ana:
– Ana, vocês olharam na esteira de bagagens né?
– Não! Fomos direto para a saída porque teu pai disse que não estariam lá.
– Não acreditoooooo!!!!!! Vocês nem olharam a esteira???
Neste momento volta meu pai lá de dentro com aquela cara de “OPS”, carregando todas as malas.
– Elas estavam na esteira!
– Não brinca!!!!!!
Pegamos o carro e logo na saída do estacionamento do aeroporto eles já recebem o famoso “Welcome to Cairo”. O trânsito do estacionamento estava uma bagunça. Meu pai ficou apavorado!! Ele não acreditava nas “proezas” dos motoristas. Em dois segundos ele estava agarrado na alça do teto do carro (famoso “puta merda”)!!! Não preciso dizer que a viagem toda até em casa foi uma grande aventura para eles!
No dia seguinte íamos direto para Sharm El Sheikh!!
A Van nos buscou as sete horas da manhã e chegamos em Sharm aproximadamente as duas da tarde. O calor estava insuportável e fomos direto para a praia. O mar estava maravilhoso como sempre. Mergulhamos, tomamos sombra (porque sol era impossível), e a noitinha, fomos ao centrinho.
Após o jantar, uma pausa para a cerveja e para a Sheesha. Quem vem ao Egito tem que fumar Sheesha!
Passeamos muito, andamos de barco, mergulhamos em vários lugares, fizemos compras e infelizmente já estava na hora de voltar. Mas para eles a aventura só estava começando.
As palavras do meu pai ao voltar de Sharm foram:
– SHOWWWWWWWWWWWWWWWW!!!
As da Ana…
– Show né Thadeu???
Aqui no Cairo fizemos o de praxe. Pirâmides, Khan Al Khalili, Cidadela, Museu, etc. Aqui cabe um conselho aos turistas. Quando forem ao Museu, contratem um guia! O passeio fica muito mais esclarecedor! É baratinho e vale muito à pena! Descobri sobre coisas que não tinha a menor idéia do que se tratavam.
Tudo os deixava fascinados, mas o que mais chocava era o contraste social. Eles ficaram assustados com a pobreza e a sujeira do Egito. Todos ficam!! Ver as pessoas nas ruas, caminhando sobre o lixo choca a qualquer um. Se deparar com os prédios inacabados e sem janelas é inacreditável aos olhos. As lojas com comidas expostas nas ruas, a sujeira dos restaurantes, tudo isso também faz parte do cartão postal da cidade.
Meu pai não cansava de dizer que aquela lição ele jamais esqueceria. A Ana por sua vez, lutava contra os odores que provinham dos motoristas de taxi. Hehehehe. Ela tem um nariz muito sensível tadinha! (brincadeirinha Ana, mas não podia deixar passar)
Dia engraçado foi quando resolvemos conhecer o Azhar Park. Um parque municipal bem bonito aqui no Cairo. Eu nunca havia estado neste parque e enquanto esperávamos um amigo que almoçaria conosco, ficamos observando as pessoas. Melhor, ficamos mais é sendo observados, isso sim. Parecíamos extraterrestres no meio daquela gente. As pessoas curiosas ao nosso respeito chegavam a tirar fotos nossas às escondidas. Ao entrar no parque percebi como falta diversão para este povo. Os adolescentes estavam tomando banho nos chafarizes do parque!! (Pareciam a Suzana Vieira em Paris). Aquelas meninas todas tapadas com seus véus, se refrescando e pulando sobre as águas. Meeeedddddooooooo!
Após esses momentos de emoção, fomos conhecer a cidade do lixo e o Monastério de São Simão, localizados num bairro muito pobre chamado Moqattan. A igreja que é toda esculpida na pedra é um lugar muito bonito. Construída dentro de grutas, é uma das principais igrejas Cristãs do Cairo. Pretendo falar sobre estes assuntos num próximo Post.
Daquele ponto da cidade, por ser uma região alta, avista-se a Cidade do Lixo. Ali vivem as pessoas que sobrevivem da reciclagem e o local parece ter uma vida independente do resto do Cairo. Ao subirmos em um prédio em construção, a fim de ver a paisagem, o choque da visão nos deixou mudos!
É realmente apavorante. O cheiro, as construções e as pessoas se misturando àquela paisagem. Meu pai avistou um prédio que em sua cobertura, havia uma criação de cabritos. Mais de trinta animais vivendo no topo de um prédio. Chegamos à conclusão de que nunca mais comeremos cabrito por aqui!!!
Quando olhamos para o lado, após cinco minutos de reflexão sobre a vida, embriagados com o cheiro insuportável do lixo que nos cercava, percebemos que alguém estava faltando…
– Onde está a Ana???
Ela já estava na escada do prédio quase a ponto de rever o almoço. Com aquela carinha de: – Por favor, vamos embora daquiiiiiii!!!!!
Fomos embora, mas guardamos as imagens para sempre!
O restante dos dias foram super agradáveis. Fomos aos diversos pontos turísticos obrigatórios. Eu e o Rodrigo os levamos em restaurantes super bons. Andamos de Feluca (barco do Nilo). Apresentamos os dois à alguns de nossos amigos e nos divertimos muitos. Deu para cansar o casal.
Nosso próximo destino seria Dubai!!!
Estávamos em vôos separados e eu cheguei em Dubai antes deles. Quando eu e minha amiga Camila, que estava gentilmente nos ciceroneando na cidade, pois é guia turística lá (http://www.dubaitheway.com), fomos buscá-los no aeroporto, logo veio a outra surpresinha do casal.
– Poxa minha filha, tive que pagar quatrocentos dólares pelo hotel…
No começo eu achei que era brincadeira dele, mas quando estávamos já no carro a caminho do hotel, entendi melhor a história…
– Como assim, pagou o hotel no aeroporto?
– Sim, o rapaz da Emirates disse que eu tinha que pagar, além do visto, mais quatrocentos dólares de hotel.
Eu e a Camila achamos aquilo muito estranho e ao chegarmos no hotel, percebemos que estávamos certas.
– Não Senhor. O hotel deve ser pago aqui, não no aeroporto!
Lá voltamos nós ao aeroporto para esclarecer a situação!
Ninguém sabia nos informar onde era o departamento que nos atenderia e após caminhamos cerca de uma hora e meia pelo terminal, finalmente achamos o balcão que deveríamos prestar a reclamação.
Falamos ao telefone com o famoso “rapaz da Emirates” e ele disse que havia cobrado apenas o visto. Explicou que não cobrou o hotel em momento algum e se havia ocorrido um roubo, seria do caixa do banco. Fomos à polícia.
Explicamos o ocorrido pela vigésima vez e a esta altura ninguém mais entendia nada. O policial fez mil perguntas e finalmente nos levou até o local onde estava o guichê do banco. O atendente não estava mais lá e então refizeram todo o fechamento do caixa para ver se não havia dinheiro sobrando…
Várias hipóteses vinham em nossas cabeças e então eu perguntei ao meu pai…
– Pai, tu tem certeza que não confundiu “four hundred dolars” com “one hundred e four”? (quatrocentos dólares com cento e quatro)
Vamos combinar que é beeemmmm parecido né?
A dúvida pairava no ar… Mas uma coisa era certa, havia sumido uma boa quantia de dinheiro.
O policial até tentou ajudar, mas os atendentes do banco colocaram muita pressão. Diziam que deram o troco certo e que ele havia gastado. Afirmavam ter entregado uma nota de mil Dirhans (moeda dos UAE) para ele e que ele havia perdido e blá, blá, blá…
No fim, mesmo depois de olhar o sistema de câmeras, nada ficou provado e meu pai saiu sem a grana, quase sendo acusado de ter forjado a situação. Em Dubai isso pode ser um problema bem sério!
Coitada da minha amiga ficou lá nos agüentando e resolvendo tudo até a uma hora da madrugada!!
Resumo da história: O caixa enrolou meu pai no troco e embolsou cerca de trezentos dólares!
Lição da história: Confira sempre o troco!!!
Fora este episódio, Dubai foi maravilhosa e a Camila também! Muitas fotos, muita comida boa, muita diversão!
A diferença entre Dubai e Cairo é gritante. Na verdade é impossível de comparar. Lá tudo funciona, não tem lixo e o trânsito é organizado.
A Ana ficou notavelmente realizada com o lugar. Meu pai, com os carros.
Tudo muito chique!!! Agora chique mesmo foi o café da tarde no Burj Al Arab que os dois pombinhos tomaram… Simplesmente o hotel mais caro do mundo!! Ou um deles ao menos!! Sete estrelas!!! Te mete com o casal!!! Tadinhos, não estão acostumados com tanto luxo!!! Hehehehe
Fizemos também o Safári no Deserto!! Ali sim, faltou “puta merda” suficiente. Eu e a Ana gritávamos desesperadamente a cada duna de areia que a caminhonete descia! Meu pai só ria e se agarrava onde podia!! Muita emoção!!! Eu já havia feito antes, mas é sempre uma aventura!!!
O único probleminha é que junto conosco estava uma família de iranianos que pediu para colocar música árabe durante o passeio. Beeeemmmm alta!!! Eles batiam palmas, cantavam e brincavam dentro do carro! Nada contra as pessoas felizes, mas música árabe é o mesmo que poluição sonora e naquela altura então, o suicídio é uma opção mais agradável!!! O bafo do papai iraniano também sugestionava uma morte rápida…
Mas a viagem foi maravilhosa. Dubai é sempre perfeita.
Na verdade, eu acredito que quando estamos com pessoas que amamos, nada é ruim! Seja lá em qualquer cidade do mundo. Todos nos divertimos muito, aproveitamos cada minuto em família e mesmo nos lugares mais chocantes, ficamos sempre com a lição: Se permanecermos unidos, sempre podemos sobreviver!!!
Espero que o Thadeu e a Ana tenham aprendido muito. Que as lições de vida do Cairo e o luxo de Dubai tenham feito alguma diferença na vida deles. Espero também, que esta seja apenas a primeira de muitas viagens que faremos juntos.
Pai, conto contigo!!! (Se é que tu me entende…)
Momentos que NÃO TEM PREÇO:
– Não olhar a esteira de bagagens…
– Confundir “Excuse-me” com “sorry” 12.432.345.000 vezes.
– Não carregar a bateria da câmera fotográfica na véspera da visita às pirâmides.
– Tomar banho no “chuveirinho” do hotel ao invés de usar a ducha própria para isso!
– Trancar o pezinho na cela do camelo!
– Ser assaltado pelo caixa do banco em Dubai!
– Perceber que aquelas aulinhas de inglês eram realmente necessárias!
Beijos
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