UM SEGUNDO DE LIBERDADE

Estava eu sentada ao sol, reclamando da vida, pensando o quanto ela está monótona e sem rumo quando por um minuto, lembrei-me das mulheres no Egito e me dei por conta de como eu estava sendo fútil e mal-agradecida.

 Pensei em como elas devem estar se sentindo após a revolução ocorrida em seu país. Será realmente que para elas alguma coisa mudou? Será que agora elas serão tratadas dignamente e poderão despir-se de seus dolorosos trajes negros? Acho muito difícil.

Mesmo que o país mude, cresça, torne-se democrático, ainda sim, as mulheres serão sempre como sombras. Vivendo atrás das crenças de sua religião pregada pelos homens. Acreditando que as ordens divinas devem ser cumpridas e que o mundo é assim porque “Alah” assim o criou. Elas terão que continuar cobrindo suas faces e sua alma. Deverão seguir omitindo um sorriso, um sonho ou um orgasmo, ou ainda pior, fingindo tê-lo.

Liberdade

Talvez as mudanças no Egito tragam às mulheres ainda mais frustrações. Quando finalmente a oportunidade de liberdade acende sua tocha, vêm “Alah” e apaga cruelmente a chama feminina. Isso porque, para os muçulmanos o que importa não são as regras dos homens, mas sim àquelas descritas no Alcorão, ditadas pelo profeta. Se depender deste livro, as mulheres permaneceram do jeito que estão, em uma linha abaixo dos humanos.

Mesmo fazendo suas reivindicações na Praça Tahrir, mesmo que por um instante elas tenham sido vistas como iguais aos olhos do mundo, assistidas nas telas da CNN por milhões de tele-expectadores que durante aqueles minutos, não perceberam que na verdade, elas estavam reivindicando por muito mais do que uma mudança de governo. Elas gritavam pela sua liberdade. Mesmo aquelas que não têm consciência disso. Mesmo aquelas que não concordam com a tal liberdade. Naquele único momento elas puderam extravasar sua raiva. Mesmo que por apenas algumas poucas horas, as mulheres egípcias se sentiram iguais.

Para nós, mulheres livres e modernas, fica muito difícil entender. Mas se pararmos para pensar, ainda sim, nós também possuímos nossas algemas. Hoje nós temos a obrigação de ser multi. Trabalhar, cuidar do filho, da casa, manter-se linda e magra e tentar manter acesa a chama da paixão no casamento. E tudo isso fomos nós mulheres que buscamos ao queimarmos nossos sutiãs. Para nós, abandonar a carreira para ficar em casa hoje é uma afronta, mas mesmo assim algumas de nós o fazemos. Será que a obrigação de ser uma super mulher não pode ser comparada à escravidão da mulher muçulmana? Claro que, dada as suas devidas proporções.

O que quero dizer é que assim como nós, que deixamos chegar num ponto quase insuportável as nossas obrigações femininas, elas também deixaram a opressão masculina chegar a esse ponto. O grande problema é que falta coragem a elas. Falta voz e compreensão do que é ser realmente livre. Elas têm muito a perder ao reivindicar seu espaço. Ao se rebelar elas podem perder seus filhos, seus pais, a sua vida. O medo dessas mulheres é mais forte que o sonho de ser livre. Elas não sabem o que é ser livre, então porque arriscar?

Conheci poucas mulheres muçulmanas liberais no Egito. Algumas até deixaram de usar o véu, mas as conseqüências foram altas. A sociedade é muito cruel para elas, não aceitando suas decisões. O que mais uma vez me leva a concluir que o problema não está no véu, mas sim em ser mulher. Porque mesmo cobrindo as suas cabeças elas são humilhadas, escravizadas e torturadas, sem ele, são tratadas da mesma forma. Apenas os homens mudam as desculpas para tal crueldade.

Portando amigos, me envergonho de reclamar da minha vida. Estou aqui, tomando livremente minhas próprias decisões, tendo apenas que lidar com as minhas conseqüências, enquanto que aquelas mulheres sofrem sem ao menos decidir por nada. Apenas sofrem por serem do sexo dito como frágil. Será mesmo fragilidade agüentar tanta covardia? Será mesmo inferioridade suportar tanto em prol da família e de seus costumes? Sinceramente não sei. Quando nascemos em um berço livre, é difícil julgar os que se deixam escravizar.

Beijo à Todos!!!



O EGITO FAZ A HISTÓRIA NOVAMENTE

 

Palavra do dia:

Parabéns: Mabrouk

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Oi gente, depois de umas férias um tanto quanto forçadas do blog eu enfim volto para “revolucionar” esta página!!!  Saí sim, fugida do Egito e ainda me encontro no Brasil, pois como todos sabem, o Egito passa por um momento incrível de mudanças para o mundo e para a história.

Hosni Mubarak

Após 30 anos de um governo injusto, repressivo e antidemocrático, cujo (ex) presidente Mubarak é um homem arrogante e alheio aos problemas do país. O povo, cansado e faminto se levanta, cria coragem e sai às ruas em uma manifestação que, no principio foi inesperada e frágil, mas que no fim, provou ser a maior conquista de todos os tempos para o país.

Eu estava lá quando tudo começou e hoje vou contar a vocês tudo aquilo que vivenciei, tentando juntar a maior quantidade de detalhes possíveis e acrescentando obviamente, minha história pessoal.

Após meus gratos 30 dias de férias no Brasil, retornei ao Egito no dia 21 de janeiro, juntamente com minha sogra Iradi, que há meses aguardava por este momento. Meu marido Rodrigo já havia retornado, mas estava em Dubai a trabalho e chegaria no domingo. Era sábado, cerca de nove e meia da noite quando aterrissamos na cidade do Cairo, dia que teve inicio minha saga.

Tudo começou já na esteira de bagagens. De quatro malas que trazíamos apenas duas, as que pertenciam a minha sogra chegaram. Foi super divertido ver a esteira parar de se mover e perceber que minhas malas (grandes e com toda a minha vida dentro) não haviam chegado.

Fui ao balcão de reclamação de bagagens e tentando inutilmente manter a calma solicitei ao atendente por informações. De nada adiantou, o homem sabia  menos do que eu!! Não tinha a menor noção de onde estavam minhas malas. Saí de lá frustradíssima e pensando o que seria de mim sem minhas coisinhas queridas. A única alegria era saber que o “salame” e a “copa” haviam chegado em segurança. No outro dia fui informada que haviam encontrado uma das malas e aproveitei que iria buscar o Rodrigo no aeroporto para resgatá-la.

Na segunda-feira, dia 24 de janeiro, a cidade ainda estava calma (dentro do possível para o Cairo, obviamente) e não tínhamos a menor idéia de que o povo secretamente (ou não) se organizava para realizar as manifestações e os protestos contra o presidente Mubarak. Na terça-feira era feriado e seguindo um roteiro turístico, levamos minha sogra nas pirâmides de Giza.

No dia seguinte, uma amiga me liga preocupada alegando que os egípcios se organizavam para um manifesto e que eu deveria ser cautelosa com relação aos lugares que levaria minha sogra. Confesso que não levei muito a sério, e mesmo vendo as informações trocadas através do Facebook, achei que aquilo não passaria de uma bobagem. Ainda sim fomos às Pirâmides de Sakara na quinta-feira.

A confusão toda começou na sexta-feira, dia 28 de janeiro de 2011 precisamente.  Ao acordarmos, percebemos que os telefones e a internet não estavam funcionando. Achamos aquilo um absurdo. Como o governo tem a coragem de privar os cidadãos de algo básico que é a comunicação? Fiquei furiosa!! Assistimos as notícias na TV e as pessoas ainda não estavam nas ruas e nem pareciam se preparar para o manifesto. Resolvemos então, não mudar os nossos planos e ir ao shopping City Stars que fica a cerca de 30 quilômetros da minha casa.

As ruas estavam vazias, o que é até normal para uma sexta-feira, dia que os muçulmanos estão nas mesquitas. Mas, ao nos aproximarmos do shopping, um grupo de manifestantes caminhava em direção ao centro do Cairo, bloqueando nosso caminho. Foi preciso desviar e procurar um novo trajeto até o shopping. Muitos motoristas paravam nas ruas para tirar fotos e todos pareciam surpresos com a quantidade de pessoas que se juntavam a cada rua que a passeata passava.

Almoçamos, passeamos, minha sogra fez compras e mesmo percebendo que já eram quatro horas da tarde e o shopping estranhamente permanecia vazio, não nos abalamos. Fomos ao aeroporto em uma tentativa frustrada de recuperar a outra mala que, pela falta de comunicação, não sabíamos com certeza se estaria lá. O funcionário do aeroporto surpreso ao nos ver, e após confirmar que a mala não havia sido encontrada diz:

– Não sei se vocês estão a par do que está acontecendo na cidade, mas o governo implantou um toque de recolher ás dezoito horas.

– Toque de recolher????

Senti como se estivéssemos nos tempos da ditadura militar ou algo parecido. Sem comunicação, sem liberdade de ir e vir, o que mais faltaria? Cheguei a pensar que o funcionário queria apenas livrar-se de nós, mas foi aí meus amigos, que percebi como eu estava sendo ingênua…

Ao sair do aeroporto, atravessando pela Ring Road, uma estrada que contorna todo o Cairo, percebi que estávamos em uma fria. Homens e crianças caminhando pela avenida armados de facões, pedaços de ferro e madeira trancavam o trânsito como se tivessem tomado a cidade. Carros de polícia incendiados, pedras e pneus bloqueando a passagem dos carros, cujos motoristas assustados, obedeciam à nova sinalização de trânsito imposta pelos protestantes.

Fogo e destruição nas ruas do Cairo

A cidade estava sendo destruída! As lojas estavam fechadas, carros na contramão parecendo fugir do tumulto e coquetéis molotovs sendo jogados de cima das  pontes. A polícia havia sumido das ruas. Não tínhamos a menor segurança e o medo começou a me rondar. Temia que por sermos estrangeiros, os manifestantes revoltados pudessem querer nos agredir, confundindo-nos com americanos, que não estavam muito bem cotados no momento.

Os protestantes passavam pelos carros olhando para dentro como se a procura de algo, batendo nos vidros como quem nos obrigando a participar de suas revoltas. Começamos a buzinar como forma de aprovação ao manifesto, apenas para disfarçar. Eles correspondiam aos buzinaços vibrando nas ruas, vitoriosos pela coragem que haviam demonstrado ao se opor contra um governo que, inutilmente havia tentado evitar a manifestação.  Seus olhares eram de raiva e medo. Nunca vou me esquecer da expressão das crianças que, naquele dia, mais pareciam ser soldados de guerra experientes.

Fomos desviados de nosso trajeto inúmeras vezes, ou por força dos homens que coordenavam o trânsito ou por carros incendiados que tornavam a passagem ainda mais arriscada. Num certo momento, jogaram um líquido no teto de nosso carro. Não sabíamos se era água ou gasolina. Passei a mão para tentar identificar o cheiro. Era água!! Não podíamos arriscar mediante todo aquele fogo espalhado, que uma faísca sobrasse para nós. Foi bastante tenso.

Levamos cerca de três horas para chegar a nossa casa. Ao chegar, senti um alívio confortador. Desde então, passamos a acompanhar os noticiários vinte e quatro horas por dia.

Não conseguíamos dar notícias aos nossos familiares. Não sabíamos como as notícias chegavam até eles. A televisão pode ser extremamente sensacionalista e isto nos preocupava, pois estávamos bem. Foi quando resolvi, sem muita fé, ligar nosso telefone cuja linha é brasileira. Incrivelmente consegui sinal. Foi o suficiente para ligar para meu pai e avisar que tudo estava bem. A linha então não voltou mais.

Protestos na Praça Tahirir

No sábado pela manhã, minha amiga que mora em nosso bairro foi até a nossa casa. Estávamos todos preocupados uns com os outros, principalmente com aqueles amigos que moravam nos arredores da Praça Tahirir que a esta altura, já estava lotada de manifestantes. Resolvemos nos encontrar na casa dela ao final da tarde, a fim de descontrair um pouco. Os telefones já haviam retornado, mas a internet não. Nosso bairro é bastante afastado do centro da cidade e estávamos supostamente seguros. Ao menos foi o que pensamos…

Cerca de sete horas da noite, nossos amigos recebem uma ligação de uma vizinha dizendo que nosso bairro estava sendo invadido por saqueadores. Ficamos bastante assustados e Rodrigo, minha sogra e eu não sabíamos se seria seguro voltar para casa.  Ficamos por lá durante algum tempo e enfim, criamos coragem e saímos.

No caminho para casa, as cenas que mais me chocaram: os moradores dos condomínios tomavam as ruas, fazendo barreiras para revistar carros e pessoas suspeitas. Homens armados estavam defendendo suas casas e suas famílias, já que a polícia havia desaparecido completamente. Chegamos a porta do nosso condomínio e o mesmo estava muito movimentado. O lugar também estava sob a vigilância dos moradores, pois o presídio próximo dali havia sido invadido e os presos todos soltos. Nossa noite foi tumultuada e mal dormida. A cada barulho que ouvíamos, os mesmos que nas outras noites nunca nos chamaram a atenção, desta vez nos faziam acordar assustados e alertas.

Passaporte de Emergência

Os protestos cada vez se intensificavam mais e os estrangeiros estavam começando a deixar o país. As embaixadas começavam a organizar a retirada de seus funcionários e demais residentes. A Embaixada do Brasil não se manifestava e sequer atendia ao telefone. Uma verdadeira vergonha. O embaixador simplesmente não deu a menor importância aos brasileiros. Não sabíamos o que fazer. Começamos a pensar em sair do país, mas havia um pequeno detalhe: o passaporte do Rodrigo estava retido em um prédio do governo egípcio para a renovação do visto de trabalho.

Ele chegou a pedir que eu e minha sogra fossemos embora sem ele. Nos recusamos. Não poderia deixá-lo lá e arriscar que a situação piorasse ainda mais. A possibilidade de ficar sem comunicação era iminente e então tratamos de ir atrás de outra solução. Uma que incluísse os três. Precisávamos de um novo passaporte.

Estávamos sem gasolina. Os postos de combustível estavam fechados e não eram abastecidos devido ao toque de recolher, que a cada dia era antecipado em uma hora. Os supermercados, aqueles que não haviam sido saqueados, funcionavam por um pequeno espaço de tempo e os bancos estavam fechados. Os shoppings estavam sendo invadidos. As lojas com suas vitrines quebradas e suas mercadorias levadas. O Museu Nacional havia sido arrombado…

Museu vandalisado

Antiguidades inestimáveis foram quebradas. Anos de histórias reduzidos a cacos espalhados pelo chão. Múmias com suas cabeças arrancadas e peças de ouro roubadas para virar bijuteria. Os cidadãos egípcios uniram-se para defender seu patrimônio e sua história e conseguiram, por algum tempo, evitar que os vândalos aproveitadores da situação, continuassem a barbárie contra o museu. Uma cena bonita e comovente no meio de tanta revolta.

Já havia se passado algum tempo e não estávamos mais suportando os dias inúteis, presos dentro de casa. A falta da internet nos deixava apenas com o jogo de paciência e filmes antigos gravados. Nosso corpo doía de tanto ficar sentado no sofá nada confortável. Nossa maior diversão era observar os nossos vizinhos fazerem guarda em frente ao condomínio, desta vez inutilmente, pois já havia um tanque militar estacionado em frente a nossa rua. 

Os militares estavam fazendo a proteção das ruas, já que a polícia ainda não havia retornado. Tanques e soldados estavam espalhados por toda a cidade. Ladrões e fugitivos estavam sendo pouco a pouco capturados. Mas no fundo, não sabíamos se eles eram realmente amigos ou se a qualquer momento se voltariam contra o povo, seguindo as ordens do presidente Mubarak, que se recusava a deixar o poder.

Decidimos finalmente, voltar ao Brasil. A situação não parecia ter um fim próximo e já havíamos esperado demais. Pobre de minha sogra que teria que voltar apenas com as pirâmides como lembrança. Nem uma passadinha pelo Khan Al Khalili para fazer umas comprinhas foi possível. Os free shops dos aeroportos foram a salvação.

Tanque militar em frente ao nosso condomínio

Conseguimos contato com a embaixada e após certa relutância dos funcionários, meu marido foi até lá, com a esperança que o combustível fosse suficiente, emitir um passaporte de emergência. Para chegar ao prédio ele precisaria passar pelos protestantes, justamente no dia que os egípcios haviam sido convocados para a caminhada, que prometia um milhão de pessoas. Pela primeira vez, ficamos felizes por ele ter aparência de egípcio…

Nossas passagens foram emitidas para a quarta-feira dia 02 de fevereiro, porém, com a ausência da internet, não tínhamos como emiti-las. Os colegas do Rodrigo que estavam no hotel próximo a Suez, receberam nossas passagens via fax. Combinamos de nos encontrar no aeroporto no dia seguinte.

Ao chegarmos ao aeroporto, ainda sim, tentei mais uma vez inutilmente resgatar minha mala que já se encontrava no Cairo (sim, eu estava preocupada com a minha mala). Mas não havia tempo hábil. Voltei com uma malinha contendo poucas coisas essenciais.

Notícias que gaúchos estavam retornando do Egito já estavam se espalhando por todo o RS. Repórteres de rádios e jornais estavam tentando entrar em contato conosco. Demos algumas entrevistas por telefone, mas não sabíamos que a repercussão seria tão grande. Foi engraçado chegar a Porto Alegre e ser recepcionada por flashes das câmeras fotográficas. Parecíamos estar chegando da guerra. Ou estávamos?

Com o retorno da internet conseguimos nos comunicar com amigos que saíram do país ou ainda estão por lá. Agora com a queda do presidente talvez as coisas se ajeitem. Lentamente as pessoas estão retornando ao Egito. Muitos estão esperançosos.

Para mim é difícil acreditar que um país acorrentado por trinta anos, saia sem feridas de uma revolução tão marcante. Fiquei sim, orgulhosa do povo egípcio que bravamente lutou contra o medo e realizou essa grande façanha. Fiquei triste por aqueles que morreram desnecessariamente, embora que pelos seus ideais.

Mesmo assim, custo a me convencer que a solução foi acertada. Não existem pessoas preparadas para liderar um povo tão maltratado. Não existem pessoas emocionalmente preparadas. As questões do Egito vão muito além das econômicas. Questões que nosso mundo liberal não faz a menor idéia que existam. Religião, ignorância e atraso cultural são apenas algumas das diferenças. Será que os egípcios estão preparados para enfrentar as conseqüências da democracia?

Novos grupos políticos devem se formar. Novos “Mubarak’s” estarão surgindo em meio a esses grupos. Todos querem uma fatia do que a miséria e a ignorância podem oferecer. Eu realmente espero que “Alah” olhe por este povo e não permita que a história se repita.

Parabéns ao povo egípcio pela sua coragem e bravura. Coragem que muitos de nós brasileiros não ousamos ter. O mundo está orgulhoso de vocês. Suas vozes foram ouvidas. Estamos todos torcendo para que as mudanças venham junto com o sol que brilha intensamente nesta terra todos os dias.

Beijo à todos

Era uma vez, Miriam e Amauri…

Palavra do dia:

Família: a’ilah

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No mês de novembro, minha mãe e seu namorado vieram nos visitar aqui no Egito. A viagem começaria aqui e depois seguiria como destino final Paris. Confesso que Dona Miriam e Seu Amauri nos alegraram bastante. Logicamente que vou detalhar esta aventura imperdível para vocês.

Minha mãe já havia viajado ao exterior antes, isto há bastante tempo, mas o Seu Amauri era marinheiro de primeira viagem, então tudo era basicamente novo e diferente para eles.

Hard Rock Café

No primeiro dia, como era sexta-feira, o melhor dia para sair de carro na cidade (estão todos rezando nas mesquitas), resolvemos dar uma volta para mostrar o Cairo aos visitantes. Fomos almoçar no Hard Rock Café e assim que o Amauri colocou os pés lá dentro ele largou sua frase mais famosa que nos acompanharia por toda a viagem:

Mas o que seria isto???

Explicamos a ele sobre o lugar e então ele pegou seu celular e começou a fazer aquilo o que ele mais se ocupou em fazer durante cada um dos 20 dias seguintes: FOTOS!!!! Milhares e milhares de fotos!!!

No caminho para casa, bem aqui pertinho, estão construindo uma mesquita enorme que aparentemente promete ser bem bonita. O Amauri, sempre divertidamente curioso, nos questionou sobre ela e prontamente demos a explicação que sabíamos.

– O que seria esse “monumento”?

– É uma mesquita ainda em construção. Vai ser uma das maiores aqui de Sheik Zayed.

– Que linda heim??

Pirâmide de Djoser - Sakara

Nossa primeira atração turística foi o parque de Sakara. Um complexo arqueológico onde está localizada a pirâmide de Djoser. Esta é conhecida como a primeira pirâmide, aquela que serviu de exemplo para todas as outras. Construída por Imhotep, o mais famoso arquiteto do Antigo Egito.

Ao chegar ao parque, fomos visitar o pequeno Museu que conta a história do complexo. Após muitas explicações e exclamações do tipo “Como é que pode né?” Fomos então ver a pirâmide principal e o restante do lugar.

Assim que avistamos a pirâmide de Djoser, Amauri prontamente questiona:

– O que seria isso??

Rodrigo faz uma longa explicação sobre o local e sobre as “Mastabas”, que são túmulos, em forma de caixas gigantes construídos com tijolos de argila. Estas foram utilizadas durante todas as dinastias egípcias e serviram como base para construção das pirâmides. A pirâmide de Djoser trata-se na verdade de vários túmulos um sobre o outro.

Todos pareciam ter entendido bem a explicação e então seguimos em frente com o passeio.

Amauri, que a esta altura já coletava pedrinhas para recordação e fotografava todooooosssss os detalhes do lugar, estava com sua felicidade estampada no rosto. Minha mãe, não se cansava de aprender com tudo aquilo. Coisas que ela havia apenas lido nos livros de história, hoje eram reais aos olhos.

Nesta hora, ao nos aproximarmos da pirâmide de Djoser e avistarmos as Mastabas uma sobre as outras, Amauri questiona curioso:

– O que seriam Mastabas?

– ??????????????????????? (todos)

Bom, neste mesmo dia fomos andar de Felluca (barco a vela). Curtimos um lindo anoitecer as margens do Rio Nilo, para depois nos deliciarmos com a comida Libanesa em um dos melhores restaurantes da cidade. Minha mãe se agarrou no prato e foi uma tarefa árdua fazê-la soltar!

Na volta para casa ao passarmos pela Mesquita em construção surge a pergunta:

– O que seria isso??

– É a mesma mesquita Amauri. Aquela de ontem lembra?

– Ah Tah!

Platô de Giza - Pirâmides

Para fazermos o passeio das três pirâmides principais, contei com a ajuda de um amigo querido que trabalha como guia aqui no Egito. Foi muito legal, mesmo após tantas e tantas visitas já feitas, entrar ainda mais na história daquele lugar mágico. Era a primeira vez que eu fazia o passeio com um guia.

Amauri estava perplexo, não via a hora de poder entrar na pirâmide. Tinha grandes expectativas sobre como seria lá dentro. Tentamos persuadi-lo, dizendo que não tinha nada de mais, que era apenas uma sala vazia e que o caminho era um túnel apertado e cansativo. Atentem para o detalhe que ele mede cerca de 1,90 de altura (eu acho). Mas nada o convencia do contrário. Ele precisava saber!!!

Infelizmente as pirâmides grandes estavam fechadas, mas as pirâmides das rainhas não. Elas são bem menores, e o acesso que leva à sala dos tesouros (que é vazia) é um longo túnel direcionado para baixo da terra, ao contrário das outras que é uma longa subida até quase o topo.

Lá se foram, Miriam e Amauri para a descida. Ficamos esperando por eles e cerca de dez minutos depois, surge o casal esbaforido. Minha mãe estava branca e o Amauri completamente molhado de suor.

Surge então a conclusão:

– Bah!!! Mas esse troço é cumprido né Tchê!!! E não tem nada lá embaixo!!! Fiquei com uma dor nas costas!!!!

Após 15.478 fotos, uma voltinha de camelo, muitas pedrinhas recolhidas e uma aula de história, regressamos exaustos ao lar para assarmos uma carninha na churrasqueira nova!! Uebaaaa!!!!  Tah, tudo bem que não é como o nosso estilo lá do Sul, mas “quem não tem cão, caça com gato” né!

Churrasquinho básico

Neste dia demos uma passadinha no Carrefour para comprar a carne. Foi quando Amauri, inconformado com a forma que os egípcios fazem o corte (marreta) tentou, utilizando o seu melhor árabe, se comunicar com o açougueiro. Não preciso dizer que foi hilário os gestos, caras e bocas que os dois trocavam. No fim, ele entendeu que a cerra de carne havia estragado ou explodido?! Como ele entendeu isso??? Ah! Não Somente ele poderá explicar!!!

Mamãe, empolgada com o churrasco, não percebeu que a janela da área estava fechada e deu de testa no vidro. Resolveu então limpar o vidro que estava sujo pela fumaça. Fechou a janela, limpou, se distraiu novamente e quando tentou voltar para dentro de casa, chocou-se mais uma vez contra a porta. Desta vez, não satisfeita com sua proeza, quebrou meu copo de cerveja caríssimo! Hehehehe.

Nos dias que ficávamos em casa o Amauri consertava tudo!! Mamãe ajudava!! Meu jardim ficou limpo, as luzes pararam com o mau-contato e agora permanecem acesas, o exaustor da cozinha finalmente teve serventia e a minha horta de alface e couve está crescendo como nunca. Mas, em uma ocasião, ele decidiu ajeitar os cabos dos fios no jardim!! Pronto!!! Lá se foi a internet!!!

– Amauriiiiiiii!!!! Não mexe aí!!!!!!!

– Mas estava tudo para fora, exposto e caído!!!

– Mas é assim mesmo!!! Se colocar para dentro a internet não funciona! Bem-vindo ao Egito!!!

Outra vez ele insistiu em lavar o carro…

– Amauri!! A gente mora no deserto meu filho!!! Tem que economizar água!!

Lá se foram litros e litros…

Claro que a boa intenção dele foi muito legal! Agradecemos de coração! (com sinceridade mesmo)

Com certeza o dia de maior decepção foi quando fomos visitar o Museu do Cairo. Por quê? PROIBIDO LEVAR MÁQUINA FOTOGRÁFICA!!!

– E agoraaaaaaaaa?????????????? Nãoooooooooooooooooooo!!!!!!!!!!!

Pobre Amauri…

No final deu tudo certo. Ele acabou se conformando e então o Museu foi aproveitado ao máximo. A Miriam adora história, então aquele lugar foi um prato cheio para ela. O ouro então foi a atração principal sem dúvida. Estonteante! Amauri estava interessado nas Múmias… “Rolou um clima.”

Passeando no Khanal Khalili

O passeio ao Khanal Khalili foi muito bom também. O casal comprou muitas coisas e estavam realizados com as aquisições. Já disse que lá é tudo muito barato né? O item que deu mais trabalho foi um abridor de garrafas que posteriormente, percebeu-se que apenas um não seria suficiente! Devíamos ter comprado dois! Putz!!! (agora foi piada)

Foi ali, que Amauri entrou em sua primeira e tão esperada mesquita. Mas além de entrar ele resolveu dar também uma rezadinha básica! Não aconselho a ninguém fazer isso! Os muçulmanos consideram um desrespeito. Mas ele não podia deixar esta oportunidade passar. Quando ele saiu de lá eu disse:

– Tu é louco?? Rezar entre os muçulmanos???

– Imagina, eles nem perceberam que eu não era muçulmano. Eu fiz igualzinho a eles!!

– Ahammmmm!!!

A caminhada em busca dos lenços também foi emocionante. Para se chegar lá é preciso atravessar uma parte do bazar onde é freqüentada em sua maioria por locais, ou seja, procure ser o mais discreto possível.

Mas nada amedrontava Amauri, que com sua câmera fotográfica (nova) tentava tirar fotos das mulheres de burca.

– Amauri!!! Tu vai levar um soco dessas mulheres!!!!

– Não, elas não estão vendo, estou sendo discreto!!

– Amauri!! Teu flash é mais forte que farol de xênon!!!

Ele até tentou fazer um vídeo, mas esqueceu de apertar o botão na máquina!! (não podia deixar de mencionar isso, hahahaha)

Neste dia minha mãe me surpreendeu com seu inglês!! Comunicava-se com uma facilidade invejada por muitos… Dentro do possível para alguém que só estudo o básico da língua na escola claro. Fiquei surpresa!! Dá onde que ela lembra tudo isso??? (sério mesmo!)

Outro momento especial para Miriam foi quando fomos ao Cairo Copta Cristão. Lá, ela pôde colocar em prática todos os seus conhecimentos. Ver aquelas igrejas esculpidas na rocha e conversar com os locais é sempre muito interessante e a beleza do lugar é fascinante. Ainda tivemos a sorte de assistir uma entrevista com dois Papas Coptas dentro de um dos templos para a TV cristã. Claro que não entendemos nada, mas valeu pela imagem deles todos vestido a caráter com suas longas barbas.

Depois disso uma visão “reconfortante” da cidade do lixo!

 

Cidadela

A Cidadela também foi um passeio bem divertido. Tiramos fotos com as meninas egípcias muçulmanas, sempre curiosas a nosso respeito. Minha mãe sempre muito simpática e prestativa, eu, nem tanto! Dentro da Mesquita os meninos insistiam em bater fotos minhas… É complicado não poder ver mulher na internet né? Não podem ver uma estrangeira que ficam alvoroçados!! Coisa chata!!!!

Voltando para casa, passando pela mesquita em construção pea vigésima vez, eis que…

– O que seria isso??

Açougue de Rua - Cairo

– Ah não Amauri!!!!!!!!

– Tah Bom, Tah Bom!! Já sei!!!

Outro ponto importante da viajem foi a caça pelos açougues de rua! Meu amigo Amauri não sossegou enquanto não conseguiu tirar uma boa foto do tal lugar. O detalhe é que estava quase no Dia do Sacrifício, ocasião em que se sacrificam animais em plena rua. Os açougues estavam lotados de carnes penduradas… Um luxo!!!

No final de semana fomos para Alexandria. Ficamos perdidos aproximadamente quatro horas pela cidade a procura de nosso hotel. Descobrimos mais tarde que ele se localizava a 25 km da cidade. Mas o hotel era super bonito e a minha mãe adorou passar algumas horinhas na piscina. Amauri, deu umas braçadas…

A cidade em si eu confesso, não achei nada de mais. A biblioteca é mágica, fora isso…

Biblioteca de Alexandria

A beira-mar também é bem bonita. Limpa e com um calçadão extenso para caminhar. O Forte e demais lugares turísticos são bonitos, mas não a ponto de valer a viajem. Obviamente que esta é apenas a minha opinião ok? Conheço gente que adora aquela cidade!

O próximo destino seria Paris.

Na França tudo foi maravilhoso, como já escrevi o blog sobre Paris, não vou me aprofundar. Minha mãe realizou um sonho e com certeza eu também. Amauri continuou com as suas fotos, sempre curioso e empolgadíssimo. Curtimos momentos maravilhosos juntos.

Minha mãe deslumbrada com as lojas e logicamente com a paisagem estonteante da cidade. Redescobrindo seu francês dos tempos de escola, satisfeita com seu desempenho. Amauri, bem, Amauri nem tanto…

Mas uma coisa vocês podem ter certeza meus amigos. Se existe alguém que catalogou o Museu do Louvre, obra por obra, esse alguém é o Amauri!!!  Se quem foi a Paris, por acaso se esqueceu de fotografar algum detalhe é só pedir para ele. Com certeza ele poderá te ajudar!!!

Para não dizer que nada de engraçado aconteceu, certa noite acordamos com o alarme de incêndio do hotel!! Sabe aqueles hotéis pequeninos de Paris com somente uma saída né? Imagina a confusão!! Eu peguei a minha bolsa e a “chapinha” e desci as escadas. Ainda bem que foi alarme falso! Ufa!!!

A viagem toda foi um sucesso!!! Curtimos juntos momentos inesquecíveis, tanto no Cairo quanto em Paris. Matamos a saudade, rimos muito e bebemos todas!!! É sempre maravilhoso compartilhar momentos com pessoas queridas. Às vezes não percebemos como a família da gente pode ser a melhor companhia para uma viajem. Minha mãe que é uma mulher radiante e amiga para todas as horas e o meu amigo Amauri, que me surpreendeu com sua simplicidade e vontade de viver!

Muito obrigado aos dois por nos proporcionarem estes momentos!!!

 

Até a próxima!

Um Grande Beijo!!

 

Mamãe, empolgada com o churrasco, não percebeu que a janela a área estava fechada e deu de testa no vidro. Resolveu então limpar o vidro. Fechou a janela e quando tentou voltar para dentro de casa, novamente chocou-se com a porta. Desta vez, não satisfeita com sua proeza, quebrou meu copo de cerveja caríssimo!

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