UM DIA NO MUGAMA

Palavra do dia:

Esperar: yantazir

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Como em qualquer lugar do mundo, aqui no Egito, para que você possa residir por mais de um mês é necessário que você tenha um visto específico ao seu propósito de estadia. Meu marido, como veio a trabalho, precisou de um visto de “residência com trabalho permitido”. Este visto demorou, mais ou menos, cerca de seis meses para ser liberado. Muito desse atraso é porque o pessoal que trabalha nos órgãos de Recursos Humanos Egípcios  são um tanto quanto atrapalhados (tô sendo legal) e também devido à burocracia cansativa e desorganizada do país.

O meu caso é um pouquinho mais fácil, pois não envolve trabalho, mas mesmo assim, até o mês passado eu ainda não possuía o meu visto. Estava aqui como turista temporário, ou seja, podia permanecer no país apenas por um mês. Toda vez que saia do país era uma tensão. Existe uma multa para visto quando expirado e se não fosse a minha “enorme simpatia “ para com os funcionários da imigração eu já estaria na lista negra do governo egípcio.

Toda a vez que eu saia do país com o visto vencido, acontecia mais ou menos assim:

Salaam Aleikum Senhor policial!

– Aleikun Salama! Do Brasil?

– Sim. País do futebol, sabe como eh!

O oficial se emocionava todo e começava a dar toda a escalação…

– Kaka, Ronaldinho, Roberto Carlos, etc..

– Isso mesmo!!! O senhor sabe muito heim???

Somente este diálogo e muitos sorrisos eram suficientes para o carimbo de saída e a liberação da multa. O mesmo não acontecia com o Rodrigo, que sempre acabava pagando.

Às vezes citavam o Maradona na história, que obviamente eu me obrigava a corrigir o equívoco rapidamente.

– Maradona é da %@&!@ (Argentina)

– Ah eh!!! Hehehehehe

Somente da última vez peguei um que acredito eu, não gostar muito de futebol e sem dó nem piedade me mandou pagar a multa. Depois disso decidi que não mais ficaria com o visto temporário e que enfim, faria o meu visto permanente!

Foi na primeira quinta-feira do mês de novembro, acompanhada de uma querida amiga, que resolvi me aventurar ao prédio da Receita Federal do Egito e buscar meu visto para seis meses de estadia. Naquele mesmo dia minha mãe e seu namorado chegavam do Brasil.

Chegamos ao “Mugama”, assim chamado o prédio da RF, cerca de oito horas da manhã. Tudo parecia calmo e tranqüilo. Mas eu não fazia idéia do inferno que estava por enfrentar.

O prédio em si, parece o Carandiru após o massacre. As paredes sujas, fedidas. As pessoas mais sujas ainda, comendo lanches pelos cantos. Fumando e gritando pelos corredores. Um verdadeiro nojo. A organização inexistente das filas. O descaso absurdo dos funcionários.

Primeiramente eu precisava tirar uma foto para o visto. Me dirigi a uma salinha que deveria caber umas duas pessoas apenas, mas obviamente estava cheia. Cerca de umas seis meninas tomando chá e conversando, aparentemente funcionárias do prédio, sem nenhuma disposição ao trabalho.

Tirei a foto que inacreditavelmente ficou pronta na hora, preenchi uma ficha com meus dados (inclusive religião) e me dirigi ao guichê de solicitação de vistos para turistas.

A menina que estava atrás do balcão estava pacientemente fazendo um capuccino e não se dignou nem a me dar um olhar. Esperei cerca de cinco minutos até que o ritual terminasse e ela resolvesse me atender.

– Bom dia. Gostaria de um visto de turista residente de seis meses.

Neste momento achei que ela fosse me encher de perguntas do tipo: Por quê? Qual seu motivo para ficar no país? Você é casada? Etc. Que nada!!! Ela olhou para a chefe que estava ao seu lado e apenas perguntou se brasileiro tinha algum tipo de restrição. Elas discutiram algo por uns dois minutos e então ela disse:

– Volte em duas horas para retirar seu visto no guichê 36.

Nunca foi tão fácil né??

Ahammmmm…

Fomos dar um tempinho no Mc Donald’s que ficava ali perto e passado duas horas voltamos ao prédio.

Aquilo estava um terror!!!!! Já eram onze horas da manhã e a quantidade de pessoas que estavam lá dentro lotava um estádio de futebol. O cheiro de cigarro era tanto que cheguei a sentir o câncer rindo da minha cara!!! Um verdadeiro horror!!!

Tinha gente do mundo todo lá. Se empurrando e gritando pelas salas. As crianças correndo de um lado para o outro e os guardas carregando bandejas e mais bandejas de chás para os funcionários. Claro que, fazer a segurança e a organização do local, não é tão importante quanto uma boa xícara de chá!!

Quando cheguei ao guichê 36, havia cerca de 5.456 pessoas na minha frente. Mas como assim??? Não tem ordem de inscrição? Não tem ordem de chamada? Não tem ordem alguma???? NÃOOOO!!!! As pessoas ficam todas na frente do balcão, esperando. Paradas ali, sem fila alguma. Amontoadas, umas em cima das outras.

O procedimento é mais ou menos o seguinte:

1.       Você tenta se enfiar por entre as pessoas até encontrar o canto menos fedido e com a melhor visão do guichê possível.

2.       A atendente carrancuda fica levantando a foto anexada nos documentos a uma altura que só os alemães da fila enxergam, para que então as pessoas se identifiquem.

3.       O documento é de papel, ou seja, molengo. Toda a vez que a atendente levanta a foto, o documento dobra e você não consegue ver nada.

4.       Caso você tenha sorte e reconheça sua foto, grite!!! Grite o mais alto que você puder!!! Até ser ouvido pela atendente que provavelmente já colocou seu passaporte de lado e chamou outra pessoa.

5.       Empurre as pessoas que estão na sua frente para que elas saiam e deixem você chegar ao balcão para assinar o documento.

6.       Identifique-se à atendente e implore para ela pegar seus documentos novamente.

7.       Assine o papel no espaço você conseguir.

8.       Posicione-se quase como “de quatro” no balcão, assim você não permitirá que outras pessoas te empurrem e você morra esmagado enquanto assina.

9.       Pegue seu passaporte que provavelmente foi jogado pela atendente na mesa.

10.   Agarre com força seu passaporte até você se encontrar em um local seguro.

Logicamente que meu visto ficou pronto duas horas depois do que o horário combinado. Isso que eu fui uma das primeiras a chegar. A mulher mostrava as fotos e nada da minha aparecer. Quando eu perguntei a ela se havia algum passaporte brasileiro ali ela me deu um olhar de ódio tão grande que eu nunca mais tive coragem de olhar nos olhos dela.

Enfim, com o passaporte e o visto na mão…

Não, não acabou!!! Você ainda precisa de um segundo vista que se chama “múltiplas entradas”. O primeiro só da direito a permanecer no país, mas você não pode sair dele. Para isso existe este segundo visto.

Fui para o guichê e para a minha surpresa não havia fila. Havia apenas um homem sentado na frente do balcão, preenchendo uma ficha, me impedindo de chegar até o atendimento. Pedi licença educadamente e obviamente não fui atendida. Pedi de novo agora com mais ênfase e não recebi nem um suspiro. Mais uma vez pede e nada. Até que…

– Da para você sair daí seu &@#%@

O atendente do guichê percebeu o que estava acontecendo e literalmente enxotou o cara de lá que saiu enfurecido e me chamando de nomes que eu nunca saberei o significado.  Mas Senhor!!!!!! Será o fim do mundo???? A pessoa ainda se achava na razão??

Solicitei então o meu visto “múltiplas entradas” e aproveitando que o rapaz gostou da minha pessoazinha, pedi:

– Será que ao invés de duas horas mais o senhor consegue adiantar este visto para mim? Estou aqui desde as oito da manhã e já são três da tarde! (acompanhado de uma piscadinha)

– Claro!!! Volte em UMA HORA!!!!

(Pensamento: &@#%@&@#%@&@#%@&@#%@&@#%@)

– Obrigado moço!!! Muito gentil!

Sentamos numa mureta embaixo de uma árvore e ficamos lá, esperando…

Foi quando eu ouço um miado, bem fininho de longe. Era um gatinho. Preso nas grades de uma das janelas do prédio!!!!

– Amigaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!! Tem um gato preso aliiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!

– É mesmo Andréia. Acho que ele tah morrendo!!

– Nãooooooooooooooooooo!!!! Coitado do gatinho!!! Alguém tem que salvar ele!!! Alguém salva eleeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!! (em prantos)

A grade era muito alta e não alcançávamos no gato. O miado cada vez mais fraco e eu cada vez mais desesperada.  O gato então parou de se mexer…

– Ele morreu!!!!! Ai Meu Deus!!!! Ele morreu!!! A gente deixou o gato morrer!!!!

Foi quando um rapaz inocentemente resolveu perguntar o que estava acontecendo.

– Moçoooooooooooooooo!!! Salva o gatinho por favor!!!!!!!!!! Por favoooorrrrrrrrrrr!!!

O homem nos olhou, obviamente assustado e após pensar por alguns momentos sobre a bobagem que ele fez ao nos dar ouvidos, subiu na janela e empurrou o gato livrando ele da grade. O gatinho tonto conseguiu recuperar o fôlego e saiu assustado correndo.

– Obrigado moço!!! O senhor salvou “a minha vida”! Deus irá lhe recompensar!!!

Isso já eram quatro horas da tarde quando retornei ao balcão e retirei enfim meu último visto! Desta vez foi fácil. Já estava separadinho pelo moço legal que com muito orgulho me falou:

– Viu? Eu não te falei que era SÓ mais uma hora?

-Ahammmmmmmmmmmmmmm!!!

Será que os egípcios têm uma noção de tempo diferente da minha?? Será que eles pensam que passar oito horas enfrentando uma burocracia é padrão mundial??? Tá certo que o Brasil também não tem lá suas vantagens quando se trata de papelada, mas ao menos você vai para casa e volta outro dia né?

Mas ao menos agora você já sabe os passos para ser uma “turista residente temporária” no Egitão!!! Rápido e sem complicações!!!  Em apenas 8 horas (lá esperando) você consegue!

Mas uma pergunta ainda paira no ar:

Como “turista” pode ser também “residente”???

Ah meus amigos!! Isso é coisa de Egípcio!!! Não pergunte!!!

O PREMIO DARDO ACERTOU MEU BLOG!!!

Oieeeeeeeeeeeeeeee

Ganhei meu primeiro prêmio como blogueira!!!!

O PRÊMIO DARDO

A indicação veio do Blog da Nadir Araújo (Mara!!!) AbStRaTo – O Diario de uma Perfeccionista

O significado do prêmio é o seguinte (copiado do blog da Nadir):

O Prêmio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc… Que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, e suas palavras.

“Estes selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar o carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web”»

E quem receber este prêmio deve seguir os seguintes passos:

1 – Exibir a imagem do Prêmio no blog;
2 – Revelar o link do blog que atribuiu o Prêmio;
3 – Indicar outros blogs para premiar.

 

A minha indicação vai para:

A História de uma Gata por Fernanda Copatti.

 

 

Obrigado, Nadir Querida!!!!

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