Depois de ocorrida a revolução egípcia em janeiro deste ano, um assunto que vem tomado conta da mídia e preocupado muitos é a famosa Irmandade Muçulmana, The Muslin Brotherhood.
Trata-se da organização islâmica mais antiga conhecida no Egito. Ela está presente em mais de setenta países e tem como princípio fundamental estabelecer os ensinamentos do Alcorão através das leis muçulmanas (Sharias) à sociedade islâmica, desvencilhando-se das influências ocidentais. O lema mais conhecido do grupo é “O Islã é a Solução”
O motivo de tanto furor ocorre porque após a queda de Hosny Mubarak, a irmandade muçulmana ganhou maior espaço, tornando-se uma opção para o futuro governo da nação egípcia. Isso quer dizer que o conhecido “liberalismo egípcio” poderá estar com seus dias contados, caso a irmandade chegue ao poder. Será??
Existem, sem dúvida, muitas teorias e opiniões sobre o assunto, mas na verdade, ninguém sabe ao certo o que acontecerá ao Egito. Nem se sabe ainda se o país conseguirá fazer suas próximas eleições dignamente.
Contudo, tentarei explicar a vocês, aquilo que tenho ouvido por aqui com relação a este assunto. Obviamente colocarei meu ponto de vista e também qual tem sido a reação do povo egípcio quando se fala em Irmandade Muçulmana.
Muitos por aqui estão certamente receosos. Inclusive os muçulmanos. Para muita gente, a simples idéia de perder a liberdade adquirida, como o direito de se vestir da forma que a consciência permite, por exemplo, é assustadora.
(Porque sim, A Sharia também prega isso)
Outra preocupação dos egípcios é com relação ao turismo. Eles continuarão vindo ao país caso as leis islâmicas sejam implementadas?
Em uma entrevista à BBC, Kamal El-Helbawi, um dos líderes da irmandade, resiste ao responder esta questão. Ele apenas afirma que somente com a concordância da maioria do povo, as leis serão executadas. Mas, em nenhum momento ele confirma que atrativos turísticos como o álcool, a utilização de roupas de banho e liberdade feminina serão realmente respeitados.
No entanto, ele insinua de forma não muito clara que o Islã não pode ter no álcool ou em qualquer outra forma de pecado seu sustento. Para ser um país muçulmano é necessário seguir as regras islâmicas e nelas não incluem estas opções.
Isso quer dizer que os turistas que vêm a Egito não terão acesso a bebidas e as praias? Pode parecer bobagem, mas isto pode afugentar muita gente.
Estão dizendo por aqui que a opinião real da irmandade é que os turistas ocidentais não são necessários ao país. Se forem eleitos ao governo, incentivarão a vinda de turístas muçulmanos como os do Irã por exemplo, já que existem suspeitas que eles buscam uma aproximação com este país. (Medooo)
Na verdade, Kamal El-Helbawi hesita em responder com clareza a muitas das perguntas feitas pela entrevistadora, que “coincidentemente” era uma mulher. Ele desconversa por várias vezes sempre destacando que tudo será feito com a concordância da maioria.
O que acontece é que por detrás das câmeras de TV, os boatos são diferentes.
Muitos egípcios têm dito que a irmandade muçulmana está aos poucos impondo suas vontades através do dinheiro e de promessas políticas. Sem o consentimento da maioria da nação.
Vou citar um exemplo:
Antes da revolução, o principal shopping Center do Cairo era aparentemente um lugar que não impunha muitas regras. Você podia se vestir da forma que quisesse e caminhar de mãos dadas com seu marido. Você certamente não podia andar aos beijos, mas isso tudo bem. Após a tal revolução e o reaparecimento significativo da irmandade, placas restritivas foram colocadas nas portas de entrada do shopping. Agora é proibido usar roupas mais curtas como regatas ou saias.
Será que isto já é o começo da aplicação das leis islâmicas ou simplesmente a administração do shopping decidiu tornar como regra? A opinião pública se apega na primeira opção.
Outra questão muito colocada e pouco respondida pelos membros da irmandade é com relação às mulheres. Poderão elas optar pelo uso do véu e por muitos outros direitos ou serão submetidas às Sharias?
É sabido que a plataforma política adotada pela Irmandade Muçulmana não permite que as mulheres tenham cargos públicos importantes. De acordo com as leis islâmicas apenas cargos municipais são concedidos a elas. Ou seja, uma mulher nunca poderá chegar a ser presidente.
Mas em entrevista, um dos membros afirma que a mulher deverá preocupar-se em desempenhar seu papel de mãe e esposa em primeiro lugar pois é isto que Alah designou para ela.
A organização também criou currículos escolares diferenciados para meninos e meninas e afirma a importância da segregação do sexo em sala de aula, trabalho e transportes públicos, separando homens e mulheres em locais específicos.
E quanto à relação política com o resto do mundo? A irmandade manterá os acordos?
De acordo com alguns partidários, o Egito terá que achar meios de se sustentar. Chega de receber os bilhões de dólares americanos…
Mas será que ele consegue?
Todos sabem que o forte do Egito não é sua indústria e a agricultura não é a principal fonte de renda. A primeira sem dúvida é o Canal de Suez e o segundo, advinha??? Turismo!
Então amigos, acho muito difícil que sem o apoio ocidental o Egito consiga manter-se economicamente. Seria mais fácil manter os acordos e ao invés de investir o dinheiro no bolso dos políticos, começar a investir no país.
E quanto a Israel?? Esta questão é a mais assustadora de todas certamente. Será mantido o acordo de paz?
A Irmandade insiste em dizer que a intenção não é quebrar o acordo, mas que injustiças não serão toleráveis.
Eis uma frase de nosso amigo Kamal El-Helbawi sobre a questão de Israel
“Este não é o momento para discutir esse assunto, mas eu gostaria de confirmar para você, e para o Ocidente em geral, que, se qualquer processo de paz [é] com base na justiça, a Irmandade Muçulmana vai apoiá-lo 100%, mas se houver algum processo de paz construída sobre a injustiça, então nós temos que trazer a justiça antes do processo de paz. “
Tirem suas próprias conclusões…
Não tenho certeza se foi notícia no Brasil, mas há algumas semanas atrás um protesto foi realizado na Praça Tahrir apoiando a questão Palestina. Veja que os muçulmanos vêem os palestinos como irmãos e sentem-se no dever de ajudá-los.
Desculpem-me os solidários, mas será que o Egito já não tem problema suficiente para se preocupar????
Agora virou mania protestar! Primeiro por uma causa justa, agora por qualquer coisa! Está virando desculpa para faltar o trabalho! (desabafo!!)
O problema é que se o acordo de paz for quebrado, certamente uma guerra irá acontecer. Já existem informações que alguns membros da irmandade muçulmana estão pedindo aos egípcios que se preparem para a guerra!
Me perdoem os egípcios confiantes mas se Israel realmente quiser o Egito será massacrado em questão de minutos. O poder de guerra deles é infinitamente maior e duvido que outro país há de querer comprar essa guerra junto com o Egitão!!
Portanto, se realmente a irmandade muçulmana estiver interessada em buscar a justiça, acho melhor ela começar com os problemas de dentro do Egito e não fora dele.
Mas muito disso não passa de especulação. Não se sabe ao certo o tamanho da força da Irmandade Muçulmana, nem se serão eles os próximos a governar o país. A única coisa que se pode afirmar é que o povo precisa de líderes sensatos, sejam eles de que religião for.
Se for decisão da maioria e as leis islâmicas prevalecerem, eu sinto pelos cristãos que vivem aqui. Eles, dentre todos, são os que estão mais preocupados. Vivo aqui e vejo a intolerância que eles sofrem. Isto eu posso afirmar! Certamente a tendência não será melhorar para eles.
Eu acredito que a política não deva ser confundida com religião. Não acho que as leis de um país devam ser baseadas em pecado ou não. As duas coisas não caminham juntas. Esta é a base da liberdade para mim, decidir minha religião independente de meu Estado. Mas, se o povo decidir assim, irei juntar as minhas malas e partir. Afinal, eu posso decidir!
Beijos
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